Museu de Bateias de Baixo guarda história da imigração polonesa

Conhecer o acervo do Sto Lat (Museu dos 100 Anos) é viajar no tempo e reconhecer, na maioria das peças, a presença da cultura dos imigrantes poloneses que povoaram o distrito de Bateias de Baixo (Campo Alegre), no final do século XIX. Da Polônia veio um baú revestido em couro, trazido pela família Kmiecick, também responsável por introduzir a tradição do Terno de Reis em Bateias.

Uma cadeira de barbeiro com mais de um século, fotos antigas e a réplica de um fogão utilizado pelos imigrantes também chamam a atenção dos visitantes. Márcio Augustin, um dos voluntários do museu, explica que a réplica foi construída com base nos relatos de uma filha de imigrantes. O fogão é uma espécie de caixa de madeira, feita com galhos roliços de araucária, amarrados uns aos outros com cipó. Dentro, uma mistura de terra e pedras enche a caixa, sobre a qual eram colocadas hastes de metal, formando uma espécie de grade para apoiar as panelas. “É que as polonesas usavam vestidos compridos e tinham medo de queimar a roupa no fogo de chão, por isso se inventou esse fogão”, explica Augustin.

O museu também guarda peças relacionadas a outras etnias. É o caso de uma desnatadeira, importada da Alemanha por Juvenal Wdütke. “Ele trouxe a máquina porque cobrava dos colonos para desnatar o leite para que fizessem manteiga”, conta Augustin. Na parede está uma rede de palha de milho, trançada por uma cabocla. “Certamente ela aprendeu com os índios”, conclui Augustin que também é autor de livros baseados em relatos orais de moradores de Bateias. Artefatos indígenas como machadinhas, quebradores de coco e afiadores integram o acervo, além de uma coleção de rochas. Uma das pedras, segundo o guia voluntário, é lava vulcânica que teria sido expelida durante uma erupção há cinco mil anos. “Mandamos para o Cenpáleo (Centro de Paleontologia localizado em Mafra) fazer a análise e eles nos deram essa informação”, justifica.

A “bateia”, espécie de gamela de madeira utilizada no garimpo de ouro, tem lugar de destaque no museu, afinal é deste instrumento que se originou o nome do distrito. “Não sabemos se é uma bateia original ou uma réplica, mas o fato é que existia ouro na região”, afirma Augustin. Nos relatos que ouviu de pessoas mais idosas, recolheu indícios da existência de uma casa de fundição clandestina na localidade. “Se existia a fundição é porque a quantidade de ouro não era pequena”, observa.

Passado recente

Não tão antigas quanto as peças do século XIX são as televisões e o primeiro computador utilizado em Bateias. Em 1970, os brasileiros assistiam pela primeira vez à transmissão ao vivo da Copa do Mundo pela TV. Em Bateias havia apenas um aparelho, no comércio de Valdinho Munhoz. “No dia em que Pelé levantou a taça, tinha mais gente na venda do Munhoz que em festa da igreja, todo mundo em volta da televisão”, diz Augustin.

Com 78 anos, Eulália Dziedcz integra a Braspol e também é voluntária na organização do museu. Entre as muitas histórias que tem para contar está a de um misterioso relógio. O dono decidiu doá-lo ao museu porque, mesmo parado há 18 anos, sem ponteiros nem pêndulo, o relógio começou a badalar no dia em que um morador da comunidade morreu. “Esse relógio de parede foi trazido por um imigrante polonês que o ganhou como lembrança antes de embarcar. Seguramente tem mais de cem anos”, afirma Eulália. A relíquia foi restaurada e agora integra o acervo do Sto Lat.

Organização

Voluntários ligados à Braspol trabalham na reorganização do Sto Lat (Museu dos 100 Anos). No ano passado, com a construção da nova sede do museu, o acervo, com aproximadamente 1200 peças, ganhou mais espaço. Agora, a  tarefa é de identificação e disposição dos objetos no local.

Ao lado do museu, está em construção o salão de festas da Braspol. Embora as obras ainda estejam em andamento, é possível visitar o Sto Lat, desde que com prévio agendamento pelos telefones (47) 3632 7061 ou 3632-7053.