Em 2016, mais de 5 milhões de quilos foram processados em ervateiras e cooperativas da região

O cultivo da erva-mate na região ainda é uma forte tradição, a qual remonta aos primórdios da colonização de grande parte das cidades do Planalto Norte. Atualmente, muitos produtores em São Bento do Sul, Campo Alegre, Piên e Agudos do Sul, ainda se dedicam ao cultivo da planta. Somente no ano passado, mais de 5 milhões de quilos foram entregues em cooperativas e empresas de Campo Alegre e São Bento do Sul. Cerca de 90% desta produção, é proveniente de propriedades agrícolas locais.
Atualmente, a erva-mate produzida na região está prestes a receber um selo de Indicação Geográfica (IG), que atesta o produto como sendo de excelente qualidade. O processo está caminhando para sua reta final e deverá abrir novos horizontes para a comercialização do mate produzido na região, que é caracterizado pela pureza. “Diversas pesquisas geográficas já foram concluídas. Atualmente creio que o processo tenha caminhando entre 70% a 80%”, relata Ruben Bahr, gerente administrativo da Cooperativa de Produtores de Mate Campo Alegre, que fábrica a erva-mate Tupan.
Prestes a completar 80 anos de história, a cooperativa, hoje com 230 sócios, todos agricultores de erva-mate de Campo Alegre, São Bento do Sul, Piên e Agudos do Sul, continua ganhando grande representatividade no sul do Brasil. Recentemente, a entidade firmou parceria com mercados no Uruguai, para onde são exportadas cerca de 300 toneladas por ano do mate produzido na região.
Conforme o gerente administrativo da cooperativa, em 2016, mais de 4 milhões de quilos de erva-mate foram entregues e processadas na fábrica da entidade em Campo Alegre, e posteriormente encaminhadas para mercados e demais pontos comerciais situados no sul do Brasil. “Hoje temos uma linha completa de chimarrão, que conseguimos aperfeiçoar ao longo de todos esses anos, através de muita pesquisa e novos investimentos”, cita.
São Bento do Sul também é sede de uma empresa que possui tradição na cultura da erva-mate. Trata-se da Fesmate, de propriedade de Rodolfo Linzmayer. A empresa, fundada no ano de 1983, atualmente compra grande parte da produção oriunda de propriedade rurais das cidades da região, entre elas, São Bento, Rio Negrinho, Campo Alegre, Piên e Agudos do Sul. “Toda minha família trabalha com erva-mate. Somos naturais de Canoinhas, onde é processado o mate que eu compro aqui da nossa região. Aqui em São Bento do Sul, fazemos o empacotamento do produto e despachamos para vários pontos de vendas nos estados do Paraná e Santa Catarina”, explica.

Industrialização
Assim como qualquer ramo ou atividade agrícola, a produção e a comercialização da erva-mate também têm seus problemas. Rodolfo e Ruben argumentam que a região é uma grande potência na produção de erva-mate. No entanto, uma observação feita por ambos coloca em xeque a qualidade do tradicional chimarrão: o crescimento desenfreado da industrialização do mate tem causando a alteração na composição do produto.
Apesar de haver gostos para os mais diversos tipos de chimarrão, desde o fraco ao mais forte, que são obtidos através do período de secagem, Rodolfo e Ruben consideram que a industrialização, impulsionada pelos altos volumes de vendas, está causando uma perda de qualidade no chimarrão, que é um costume e hábito muito antigo na região. “Muitas indústrias chegam a adicionar até 20% de açúcar em sua composição. Isso é complicado porque pode interferir em doenças como diabetes, por exemplo. É importante que as pessoas sempre leiam a composição para saber sobre o produto”, cita Ruben.
Rodolfo também lamenta o fato da industrialização estar afetando negativamente a qualidade do chimarrão. “Vemos hoje em dia muitos produtos misturados, como chás, palito moído e outros itens que interferem diretamente no gosto do chimarrão. Afim de vender mais, acabaram adulterando a composição de nosso tradicional chimarrão, estão diminuindo a qualidade para diminuírem o preço”, reclama.

Modernização do processo
O agricultor Niceto Telma, mais conhecido como Zico, é o atual presidente da Cooperativa de Produtores de Mate Campo Alegre. Hoje com 80 anos de idade, ele conta que cultivou erva-mate durante toda sua vida. “Na minha época, o cultivo e preparo da erva-mate era muito mais complicado. No meio do mato tínhamos uma espécie de estufa, que chamávamos de carijo, onde a erva era sapecada e secada. Era um sistema muito trabalhoso”, relembra.
Nos carijos os agricultores amontoavam as podas das árvores de erva-mate, em um recipiente de forma circular, onde cavalos e bois que se movimentavam ao redor, moviam um equipamento feito de madeira que rolava moendo os galhos e todas as folhas. O material passava por uma espécie de peneira e posteriormente era “sapecado” e secado. “Lembro que ainda criança ajudava meus pais no mato, era um trabalho muito árduo de se fazer. Hoje em dia o negócio é bem diferente”, compara.
O presidente e o gerente da cooperativa campo-alegrense abriram as portas da fábrica onde é produzido a erva-mate Tupan, mostrando a tecnologia que atualmente é empregada. Nos dias atuais, as cooperativa e as empresas buscam e até realizam as podas das ervateiras nas propriedades e realizam todo processo de queima e secagem. Entre junho e setembro costumam ocorrer as podas das árvores e as máquinas da cooperativa trabalham a todo vapor para processar milhares de pacotes de ervas que são vendidos em todo Sul do Brasil.

A produção do chimarrão
Zico explica que depois de chegar na cooperativa, as folhas e galhos de erva-mate são colocados em uma máquina trituradora. Em seguida o material, já cortado, em menor tamanho e forma, percorre uma esteira onde passa por um segundo triturador, para posteriormente ser “sapecado” em um forno. Depois disso, o material ainda passa por um segundo tubo gigante de secagem para, finalmente, ser despachado para outro barracão onde é armazenado para em seguida ser moído e embalado.

Alerta aos produtores
Rofoldo destaca que um fato precisa ser mudado na região. Para ele, grande parte dos agricultores que produzem erva-mate não deveria vender sua produção para atravessadores. Segundo Linzmeyer, esta é uma característica forte no cultivo, que também interfere na qualidade. “Existem casos onde vemos árvores sendo podadas de qualquer forma, sendo que existe um jeito certo para se fazer isso. Os agricultores não vêm negociar diretamente com as empresas, considero isso o maior erro”, avalia.

Benefícios a saúde
Várias pesquisas apontam que componentes da erva-mate ajudam em dietas, agem como diurético, digestivo e também auxiliam no tratamento da fadiga funcional. Apesar de ser contraindicado para pessoas com hipertensão ou problemas de insuficiência renal crônica, o chimarrão causa a diminuição de 29% nos níveis do colesterol e 62% triglicerídeos, contribuindo com a prevenção de problemas cardíacos, conforme estudo divulgada pela Feevale, de Novo Hamburgo/RS.
Seu Zico, que aos 80 anos preside a cooperativa, diz que esse é o segredo de sua longevidade. “Aos 80 anos de idade me sinto bem, forte e disposto. Tomo chimarrão todos os dias e mais de uma vez durante ao dia. Consumimos muito chimarrão em minha casa”, revela.

Fonte Jornal A Gazeta